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quinta-feira, 3 de julho de 2014

A Localvisão

Saiu hoje no Diário de Notícias um artigo de opinião sobre a Localvisão
Ainda que o autor conheça pouco do que se passa na Localvisão nos dias de hoje, conseguiu, só de olhar um pouco para o canal perceber a essência do que outrora fomos. Perdoem-me os que lá continuam, mas a magia desapareceu quando nos mandaram a quase todos para casa sem data definida para voltar e sem uma réstia de luz ao fundo do túnel.
Ainda assim, e correndo o risco de falar com o rei na barriga, voltaria a fazer tudo outra vez. A Localvisão foi o primeiro (e único, até ao momento) sítio onde trabalhei como jornalista. Foi lá que aprendi muito do que sei hoje, que cresci enquanto pessoa e me pus à prova enquanto profissional. Foi a primeira vez que saí de casa dos meus pais e fui morar sozinha, ainda que Aveiro seja mesmo ali ao lado. Foi lá que ganhei, mais uma vez, amigos para a vida inteira. Mas acima de tudo, foi lá que pude fazer aquilo que realmente me dá gozo fazer. Não havia entrevistas à distância, nem reescrever as notícias dos outros. Nós íamos, estávamos e víamos. Conheci histórias tão interessantes, pessoas que me marcaram e sítios fenomenais. E depois o retorno: as mensagens, e-mails, telefonemas repletos de agradecimentos e elogios daqueles que nunca chegaram à televisão que todos vêem. Nós contávamos, de facto, as histórias do fim da rua. Porque aos outros não lhes interessa chegar ao fim da rua, quando tudo o resto está ali ao virar da esquina. E, de facto, trabalhávamos para os melhores espectadores do mundo. Para aqueles que chegavam a casa e mudavam a televisão para o canal 198 só para nos verem. Também acho que éramos dos melhores trabalhadores do mundo. Não pela qualidade extraordinária das reportagens ou pelas longas investigações, mas sim porque mesmo sem recompensas durante meses a fio nunca deixámos morrer a Localvisão. 
No fim, a Localvisão acabou mesmo por morrer (aquilo que existe agora não pode ser aquilo que eu também ajudei a construir, é uma sombra apenas), mas não fomos nós, em circunstância alguma, que a deixámos morrer.
O nosso esforço nunca foi inglório por termos poucos espectadores. O nosso esforço foi inglório porque a força que nos iluminava e financiava durou menos tempo do que o que seria necessário para se eternizar.  

L. 

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