Adoro viajar. Não consigo
sequer lembrar-me da minha primeira viagem, de tão cedo que me iniciei nestas
vidas. Já vi quase meio mundo e estou desejosa de conhecer o outro meio. Tive a
sorte de ter uns pais que sempre gostaram de partir à aventura e de sermos nós
crianças e adolescentes que sempre os acompanhámos. Agora, as viagens acalmaram
porque a iniciação na idade adulta não permite grandes escapadelas. Mas tenho a
certeza que não ficamos por aqui. Enfim, nunca me importei de fazer malas,
esperar por voos atrasados no aeroporto, passar horas dentro de um carro...
Ainda assim, sempre apreciei mais a chegada do que o caminho percorrido. Nada
substitui aquela sensação de chegar ao desconhecido e deixar que o novo
ambiente se nos entranhe em todos os cinco sentidos. Nos últimos tempos, são
outras as viagens que faço, e outras as chegadas constantes. Não é o novo que
me espera, mas o velho, o habitual, o que é meu e que me mata de saudades. Só
por isso é que estas viagens de todas as semanas valem a pena. Porque, de
resto, já estou cansada de as fazer. Já não suporto ver malas à frente, roupa
para cima e para baixo, traz o sujo, leva o lavado e sempre assim. Semana após
semana. Só ontem fiz viagens de metro, de comboio e de carro. Por falar nessas viagens, ganhei mais uma
experiência traumática em relação a Lisboa. Depois do bicho, achei que nada me
poderia afectar da mesma forma, mas... Ora aqui vai: de forma a apanhar o
comboio de Lisboa para o Estoril, fui com a Inês até ao Cais do Sodré. Aí, e
como íamos com as malas carregadíssimas (o habitual... estranho não levar logo
duas ou três), optámos por subir para o cais dos comboios de elevador. O local
onde se encontrava o elevador era sombrio só por si. E não me coíbi de o
comentar com a Inês. O pressentimento não era o melhor. Entretanto, aproxima-se
uma mulher cujas semelhanças com a bruxa da Branca de Neve eram mais que
muitas. O olhar dela sempre fixo em nós as duas e as mãos atrás das costas. Lá
entrámos no elevador (só o fiz porque estava acompanhada), e aqueles segundos
que demorou o elevador a fazer o percurso do -1 para o piso 0, foram assustadores. A mulher não desviava o olhar, não tirava as mãos atrás das
costas e tinha nos lábios um meio-sorriso, mais assustador do que gentil. Só
pensava: pronto, a mulher vai sacar de uma faca, vai espetá-la na Inês (que
estava mais próxima da dita cuja) e eu vou ter que espetar com a mala na cabeça
da mulher. Em poucos segundos, passou-me tudo pela cabeça: que não ia ter
forças para pegar na mala, que a Inês ia ficar lá prostrada no chão e a mulher
ia avançar para mim, que mesmo que conseguisse pegar na mala e acertar-lhe
poderia danificar o meu computador (escondido dentro da mala) para sempre. Não
aconteceu nada! Mas a mulher transmitia, mesmo, péssimas vibrações. Tive que
parar alguns minutos para recuperar, mesmo quando a mulher se afastou.
Recuperação que não é fácil numa estação como a do Cais do Sodré. Cheia de
gente, mas meio abandonada, com mosquitos por todo o lado e mesmo pouca
informação. Esta experiência não repito de certeza.
Enfim, eram quase dez da
noite quando cheguei a casa. E domingo, por volta das cinco da tarde, devo
estar de volta à capital. Para a semana, repete-se o trajecto,
indepentendemente do meio de transporte. Só espero que as próximas viagens sejam mais
calmas, porque se for sempre com estes tumultos, o meu coração pode não
aguentar.
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