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sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Viagens

Adoro viajar. Não consigo sequer lembrar-me da minha primeira viagem, de tão cedo que me iniciei nestas vidas. Já vi quase meio mundo e estou desejosa de conhecer o outro meio. Tive a sorte de ter uns pais que sempre gostaram de partir à aventura e de sermos nós crianças e adolescentes que sempre os acompanhámos. Agora, as viagens acalmaram porque a iniciação na idade adulta não permite grandes escapadelas. Mas tenho a certeza que não ficamos por aqui. Enfim, nunca me importei de fazer malas, esperar por voos atrasados no aeroporto, passar horas dentro de um carro... Ainda assim, sempre apreciei mais a chegada do que o caminho percorrido. Nada substitui aquela sensação de chegar ao desconhecido e deixar que o novo ambiente se nos entranhe em todos os cinco sentidos. Nos últimos tempos, são outras as viagens que faço, e outras as chegadas constantes. Não é o novo que me espera, mas o velho, o habitual, o que é meu e que me mata de saudades. Só por isso é que estas viagens de todas as semanas valem a pena. Porque, de resto, já estou cansada de as fazer. Já não suporto ver malas à frente, roupa para cima e para baixo, traz o sujo, leva o lavado e sempre assim. Semana após semana. Só ontem fiz viagens de metro, de comboio e de carro.  Por falar nessas viagens, ganhei mais uma experiência traumática em relação a Lisboa. Depois do bicho, achei que nada me poderia afectar da mesma forma, mas... Ora aqui vai: de forma a apanhar o comboio de Lisboa para o Estoril, fui com a Inês até ao Cais do Sodré. Aí, e como íamos com as malas carregadíssimas (o habitual... estranho não levar logo duas ou três), optámos por subir para o cais dos comboios de elevador. O local onde se encontrava o elevador era sombrio só por si. E não me coíbi de o comentar com a Inês. O pressentimento não era o melhor. Entretanto, aproxima-se uma mulher cujas semelhanças com a bruxa da Branca de Neve eram mais que muitas. O olhar dela sempre fixo em nós as duas e as mãos atrás das costas. Lá entrámos no elevador (só o fiz porque estava acompanhada), e aqueles segundos que demorou o elevador a fazer o percurso do -1 para o piso 0, foram assustadores. A mulher não desviava o olhar, não tirava as mãos atrás das costas e tinha nos lábios um meio-sorriso, mais assustador do que gentil. Só pensava: pronto, a mulher vai sacar de uma faca, vai espetá-la na Inês (que estava mais próxima da dita cuja) e eu vou ter que espetar com a mala na cabeça da mulher. Em poucos segundos, passou-me tudo pela cabeça: que não ia ter forças para pegar na mala, que a Inês ia ficar lá prostrada no chão e a mulher ia avançar para mim, que mesmo que conseguisse pegar na mala e acertar-lhe poderia danificar o meu computador (escondido dentro da mala) para sempre. Não aconteceu nada! Mas a mulher transmitia, mesmo, péssimas vibrações. Tive que parar alguns minutos para recuperar, mesmo quando a mulher se afastou. Recuperação que não é fácil numa estação como a do Cais do Sodré. Cheia de gente, mas meio abandonada, com mosquitos por todo o lado e mesmo pouca informação. Esta experiência não repito de certeza.

Enfim, eram quase dez da noite quando cheguei a casa. E domingo, por volta das cinco da tarde, devo estar de volta à capital. Para a semana, repete-se o trajecto, indepentendemente do meio de transporte. Só espero que as próximas viagens sejam mais calmas, porque se for sempre com estes tumultos, o meu coração pode não aguentar. 

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